Dificuldades do magistério escondem vantagens e prazeres que só os apaixonados pela profissão conhecem Marília Juste |
Classes lotadas, alunos desinteressados, material ultrapassado e salários baixos. Com certeza não é isso que ninguém gostaria de enfrentar em seu dia-a-dia. No entanto, nos últimos anos tem aumentado a procura dos estudantes por cursos de licenciatura, segundo dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).A quantidade de vagas nas universidades também tem crescido, assim como o número de formandos.
"Nossa recompensa é ver o
aluno progredir. É ver um aluno pobre, com poucas chances, vencer na vida, tornar-se médico, advogado, até colega de trabalho", conta a professora Maria Senna do Nascimento, que dá aulas de geografia e história há 23 anos. Marco Antônio Seta, professor de educação artística, diz que alguns alunos surpreendem tanto, que vale a pena continuar na carreira apesar de todos os problemas.
As dificuldades enfrentadas pelos mestres
são conhecidas de todos. Maria Senna, por exemplo, recebe o mesmo salário há nove anos na rede estadual de ensino de São Paulo. O desinteresse e o despreparo de muitos alunos é outro problema. "O maior desafio do professor hoje é fazer o menino aprender", afirma categoricamente a secretária de Educação Infantil e Fundamental Maria José Vieira Feres. Segundo ela, 59% dos alunos que estão atualmente na 4a série têm dificuldades para ler. "Tem quem não goste que a gente divulgue essas estatísticas, mas elas são a realidade. E é preciso entender essa realidade para poder melhorar", diz.
Além de tudo isso, muitos professores do
país não possuem as exigências mínimas necessárias para estarem em sala de aula e vão precisar correr contra o tempo para se atualizar. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), até 2006 os professores do Ensino Fundamental e Médio precisam ser formados em um curso superior de licenciatura. Uma resolução de janeiro deste ano permitiu que os professores de 1a a 4a séries pudessem dar aulas apenas com formação do ensino médio. Dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) mostram que quase 30% dos professores de 5a a 8a séries e do Ensino Médio não atendem a essas exigências da LDB. Para resolver a situação, o governo tem investido na formação desses professores, por meio principalmente de diversos cursos de ensino a distância.
Mas existem vantagens no magistério pouco
discutidas que vão além do encantamento com alguns alunos. "Hoje em dia, é muito difícil você encontrar desemprego entre professores", afirma o secretário de Educação Média e Tecnológica do Ministério da Educação, Antonio Ibañez. Principalmente entre os que dão aulas d e ciência, ele informa. No entanto, não basta apenas conhecer sua área para estar na frente de uma sala de aula. "O conhecimento técnico e científico não é tudo. O professor precisa ser capaz de fazer a criança relacionar o que aprende com o seu cotidiano", acredita Ibañez.
Apesar da importância da profissão, ela ainda
é pouco valorizada, segundo a professora do Ensino Fundamental Cibele Rufino. Feres concorda e afirma que os jovens só vão realmente se interessar pela carreira quando a identidade profissional do professor for resgatada por meio de programas de valorização. Além disso, a secretária acredita que é preciso investir na constante atualização do conhecimento do professor. "Eu não quero que meu filho vá em um médico ruim. Da mesmo maneira, não quero que ele tenha um professor ruim", afirma.
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