quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Profissão de apaixonados e sofredores

Dificuldades do magistério escondem
 vantagens e prazeres que só os
 apaixonados pela profissão conhecem

Marília Juste


AP
Aprendizado de aluno é recompensa para professor
Classes lotadas, alunos desinteressados, material ultrapassado e salários baixos. Com certeza não é isso que ninguém gostaria de enfrentar em seu dia-a-dia. No entanto, nos últimos anos tem aumentado a procura dos estudantes por cursos de licenciatura, segundo dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).A quantidade de vagas nas universidades também tem crescido, assim como o número de formandos.
"Nossa recompensa é ver o
 aluno progredir. É ver um aluno 
pobre, com poucas chances,
 vencer na vida, tornar-se
 médico, advogado, até colega de trabalho", 
conta a professora Maria Senna do
 Nascimento, que dá aulas
 de geografia e história há 23 anos. Marco
 Antônio Seta, professor de educação artística,
 diz que alguns alunos surpreendem tanto, que 
vale a pena continuar na carreira apesar de
 todos os problemas.
As dificuldades enfrentadas pelos mestres
 são conhecidas de todos. Maria Senna, 
por exemplo, recebe o mesmo salário 
há nove anos na rede estadual de ensino
 de São Paulo. O desinteresse e o despreparo
 de muitos alunos é outro problema. "O maior
 desafio do professor hoje é fazer o menino 
aprender", afirma categoricamente a secretária
 de Educação Infantil e Fundamental Maria
 José Vieira Feres. Segundo ela, 59% dos alunos
 que estão atualmente na 4a série têm
 dificuldades para ler. "Tem quem não goste
 que a gente divulgue essas estatísticas,
 mas elas são a realidade. E é preciso entender
 essa realidade para poder melhorar", diz.
Além de tudo isso, muitos professores do 
país não possuem as exigências mínimas 
necessárias para estarem em sala de aula
 e vão precisar correr contra o tempo para
 se atualizar. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação (LDB), até 2006 os professores 
do Ensino Fundamental e Médio precisam
 ser formados em um curso superior de
 licenciatura. Uma resolução de janeiro 
deste ano permitiu que os professores
 de 1a a 4a séries pudessem dar aulas
 apenas com formação do ensino médio.
 Dados do Inep (Instituto Nacional de
 Estudos e Pesquisas Educacionais)
 mostram que quase 30% dos professores
 de 5a a 8a séries e do Ensino Médio não
 atendem a essas exigências da LDB.
 Para resolver a situação, o governo tem
 investido na formação desses professores, 
por meio principalmente de diversos cursos
 de ensino a distância.
Mas existem vantagens no magistério pouco
 discutidas que vão além do encantamento com 
alguns alunos. "Hoje em dia, é muito difícil você
 encontrar desemprego entre professores", afirma 
o secretário de Educação Média e Tecnológica 
do Ministério da Educação, Antonio Ibañez. 
Principalmente entre os que dão aulas d
e ciência, ele informa. No entanto, não basta
 apenas conhecer sua área para estar na frente
 de uma sala de aula. "O conhecimento técnico e 
científico não é tudo. O professor precisa ser
 capaz de fazer a criança relacionar o que
 aprende com o seu cotidiano", acredita Ibañez.
Apesar da importância da profissão, ela ainda
 é pouco valorizada, segundo a professora do
 Ensino Fundamental Cibele Rufino. Feres
 concorda e afirma que os jovens só vão
 realmente se interessar pela carreira quando
 a identidade profissional do professor for resgatada
 por meio de programas de valorização. Além disso, 
a secretária acredita que é preciso investir na
 constante atualização do conhecimento do professor.
 "Eu não quero que meu filho vá em um médico ruim. 
Da mesmo maneira, não quero que ele tenha um
 professor ruim", afirma.
Amor pela profissão
Vocação é mais forte que dificuldades
Ricardo Padue
Cátia Fabichak Amatuzzi:
"Adoro ser professora"
Apesar dos problemas, existem professores como Cátia Fabichak Amatuzzi, de 42 anos, que não trocam essa carreira por nada. Ela dá aulas para a 4a série do Ensino Fundamental na EMEF "Vila Piauí", em São Paulo. Na área há 15 anos, é enfática: "Adoro ser professora".
GALILEU: Quais são as dificuldades da carreira?
Cátia Amatuzzi:
 A maior é conseguir que as pessoas acreditem no seu trabalho e que te ajudem. A gente trabalha, às vezes, em ambientes que não são nada propícios. Eu dou aula em uma escola feita de lata. Além disso, trabalhamos com crianças demais, o que dificulta um atendimento mais individual. É frustrante não poder levar todas as crianças no mesmo nível.
GALILEU: E as vantagens?
Amatuzzi:
 A gente consegue ter uma troca muito rica com as crianças. Não abro mão, apesar de tudo, de ser professora. Enquanto muitos professores visam cargos mais altos, como ser coordenadores e diretores, eu não quero sair da sala de aula e perder o contato com cada criança. A gente aprende muito com elas.
GALILEU: Como atrair a atenção de um aluno indisciplinado?
Amatuzzi:
 Criamos um projeto em nossa escola chamado "Era do Gelo", que usa o filme de mesmo nome para transmitir mensagens de união. O objetivo é tentar diminuir a indisciplina de muitos alunos e ensinar a importância do respeito. É um caminho.

PERFIL DA EDUCAÇÃO NO BRASIL
O Inep divulgou em outubro as principais estatísticas sobre a situação dos professores no Brasil em 2002. Aqui estão algumas delas. A pesquisa está no site www.inep.gov.br
PROFESSORES ATUANDO
EI: 259.203
1a a 4a do EF: 809.125
5a a 8a do EF: 800.753
EM: 468.310
RENDIMENTO MÉDIO MENSAL DO PROFESSOR
EI: R$ 422,78
EF de 1a a 4a: R$ 461,67
EI de 5a a 8a: R$ 599,85
EM: R$ 866,23
FORMAÇÃO DOS PROFESSORES
14,7% do EI: Formação superior
18,3% de 1a a 4a do EF: Licenciatura
70.7% de 5a a 8a do EF: Licenciatura
74,9% do EM: Licenciatura
Cursos de graduação com licenciatura
1991: 2.512
2002: 5.880
Vagas nos cursos públicos de licenciatura
1991: 74.808
2002: 153.889
Concluintes em licenciatura
1991:
 103.875
2002: 176.569
EI: Ensino Infantil; EF: Ensino Fundamental; EM: Ensino Médio

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